Análise dos aspectos psíquicos presentes na série “Adolescência”

A série “Adolescência” explora a trama de um assassinato cometido por Jamie, um garoto de 13 anos, a uma garota de sua escola, Katie. A saga percorre o momento da prisão do adolescente, bem como a investigação policial e psicológica acerca do caso. Além disso, a série enfatiza as consequências desse ato criminoso para o próprio personagem e sua família. 

Iniciemos a análise da série “Adolescência” pela definição e exemplificação de alguns conceitos psicanalíticos fundamentais que aparecem nos comportamentos de Jamie, o personagem principal. 

A Psicanálise estabelece o Complexo de Édipo como um dos processos emocionais que ocorrem na infância durante a formação do Eu, sendo caracterizado pelo conflito na tríade Eu – Objeto – Outro. Para um garoto, essa relação se dá no desejo pela mãe (objeto) e consequente rivalidade com o pai (outro; quem interdita a relação Eu-Objeto). 

Um exemplo evidente da manifestação desse complexo se dá no caso clínico de Freud, “O  Pequeno Hans – Análise de uma fobia de um menino de cinco anos” (1909). Freud relata que Hans desperta um dia em lágrimas com medo de que sua mãe tivesse ido embora e, com isso, não poderia “mimar” mais com ela. 

Quando mergulhava nesse sentimentalismo, sua mãe costumava levá-lo para a cama com ela. Esse trecho mostra o início da ansiedade de Hans ligada ao Complexo de Édipo, quando, para “mimar” com a mãe, deseja que seu pai se afaste. 

Hans “demonstrava um grau de clareza incomum. Ele chamava atenção para o fato de que seu amor por seu pai entrava em conflito com sua hostilidade com ele, considerando-o como um rival junto de sua mãe; e censurava seu pai por não haver ainda chamado sua atenção para esse jogo de forças, fadado a culminar em ansiedade.” FREUD. 

Hans suspeitava que tomar posse de sua mãe era uma ato proibido e se defrontara com a barreira contra o incesto. 

Na série “Adolescência”, há uma provável frustração de Jamie ao sentir-se rejeitado pela mãe, que tinha como objeto de amor, o pai do garoto. Nessa relação, é provável que Katie fosse, para Jamie, a representação de sua mãe (a figura feminina da mãe é o primeiro objeto de amor do menino). Quando Katie escolhe se relacionar com outros meninos, Jamie não consegue lidar com a rejeição e mata Katie (matando também, simbolicamente, sua mãe). 

Além disso, as pulsões também constituem um dos importantes fundamentos da Psicanálise, sendo caracterizadas como instintos que impulsionam o ser humano a fim de reduzir tensões internas. São elas: pulsão de vida (amor) e pulsão de morte (ódio). 

Esse conceito é manifestado na falta de controle de impulsos de Jamie, que, a partir do sentimento de rejeição, sente ódio e mata Katie.

Um outro processo que rege o comportamento de Jamie ao longo de toda a série é o Princípio do Prazer, que, segundo a teoria Psicanalítica, é um processo primário inconsciente que busca satisfação imediata do prazer. No entanto, a partir dos processos civilizatórios que estabelecem regras, valores éticos e morais, o Princípio de Prazer passa a ser substituído pelo Princípio de Realidade (processo secundário). 

Na série, é possível ver com clareza a manifestação do Princípio do Prazer no comportamento descontrolado e agressivo de Jamie. 

Ao matar Katie, o protagonista busca unicamente sanar a frustração gerada pelo sentimento de rejeição, demonstrando a satisfação da pulsão de morte (ódio). 

Em adição, durante a conversa com a psicóloga, Jamie também demonstra sua falta de controle de impulsos e as características do processo primário. Inicialmente, o garoto tenta encantar a profissional, que, em um primeiro momento, demonstra intimidade e gentileza com Jamie. Porém, após o descontrole do personagem e sucessivas tentativas de intimidar a psicóloga, que provavelmente também representa para Jamie, sua mãe, ela retoma o controle da conversa. Entretanto, novamente, Jamie sente-se frustrado em seu narcisismo, transformando o amor em ódio. 

Em última instância, o diálogo final dos pais de Jamie demonstra a culpa e frustração que sentem por terem falhado na criação do garoto e, consequentemente, terem de conviver com a dor de serem pais de um adolescente homicida e com características de perversão. 

Texto escrito por: Luana Ranali de Carvalho Pinto; Tais Ranali de Carvalho Pinto